TEXTOS

MotoGP: corrida maluca e milagre na curva 3 do GP da Áustria

Como colocar em palavras tudo que vimos acontecer na etapa 4 da MotoGP na temporada 2020? As corridas estão muito imprevisíveis, temos muito mais pilotos se destacando, mais disputas, mais polêmicas, mais coração quase saindo pela boca em cada corrida! Mas vamos ao que interessa aqui, que é a minha análise sobre o GP da Áustria.

Ducati favorita na Áustria (e com divórcio anunciado)

Começando pelo histórico da MotoGP na pista: a Ducati venceu no Red Bull Ring nos últimos 4 anos antes dessa corrida de 2020 com algum dos seus pilotos. É a moto favorita, pois é um circuito de alta velocidade onde a Ducati se destaca, por isso eles sempre chegam com obrigação de vencer na Áustria, pela vantagem técnica da moto.

Andrea Dovizioso (#04) é piloto Ducati há 8 anos

Durante o fim de semana da etapa foi confirmado que Andrea Dovizioso não irá renovar o contrato com a Ducati para 2021, e quem disse não nessa história foi Dovizioso. Existia uma negociação por salário, onde a Ducati não queria corresponder ao que o piloto pedia. Além disso, sabemos que o clima dentro da Ducati não era amigável para Dovizioso. Durante todo o fim de semana o piloto se recusou a falar dos seus motivos. “Não é o momento correto para falar disso, agora vamos focar nas corridas,” o que mostra que o piloto deverá falar abertamente seus motivos apenas após o fim da temporada com a Ducati. Vamos aguardar. São oito anos do piloto competindo pela Ducati, sem título mundial.

Nos treinos, KTM, Ducati e Yamaha estavam sempre entre os mais rápidos. No qualificatório 1, Johann Zarco (Ducati Sponsorama) e Valentino Rossi (Yamaha) foram os mais rápidos e subiram para a disputa da pole. Curiosamente, a pole ficou com Maverick Viñales (Yamaha), seguido por Jack Miller (Ducati Pramac) e Fabio Quartararo (Yamaha satélite), que é o líder atual na MotoGP. Dovizioso largou em quarto, abrindo a segunda fila.

Hora do show, do caos e do milagre

Havia uma previsão de chuva para a corrida, que seria um desafio extra para os pilotos, mas não se cumpriu. Pista seca no domingo e na largada vimos Jack Miller e Dovizioso largarem bem com a Ducati e Pol Espargaro buscando e após algumas voltas e colocando a KTM na liderança. Seria outro fim de semana de vitória da KTM e a primeira de Pol? Não… Não foi dessa vez.

Uma volta depois de Pol assumir a liderança, na frenagem antes da curva 3 do circuito, um contato entre Johann Zarco e Franco Morbidelli (Yamaha satélite) fez as motos cruzarem a pista e quase atropelarem Maverick Viñales e Valentino Rossi, o que seria uma catástrofe e o pior dia da MotoGP até hoje!

yamaha motogp
Na imagem Valentino Rossi a uns 50 km/h contorna a curva 3 e a moto passa na sua frente a mais de 100 km/h!

Por sorte – ou por milagre -, todos saíram bem, mas o acidente gerou bandeira vermelha e interrupção da prova. Quem tem culpa no meu entendimento? O circuito. Se tivesse sido pensado para motos e não para Fórmula 1, os pilotos após colidirem – Franco bateu na traseira da moto de Zarco – as motos teriam saído para a brita (aquela área com pedras onde a moto para quando sai da pista), sem a possibilidade de cruzar a pista e acertar alguém. Querer por a culpa em algum piloto pelo que aconteceu após a queda porque o circuito não foi pensado para motos é um erro.

Motos voltaram para o box para nova relargada e os pilotos podem trocar o pneu. Pol volta para o box nitidamente estressado. Era um sinal… Curiosamente a KTM não tinha pneu médio para repor na moto de Pol, com isso ele voltou para a pista com pneu macio e deu tudo errado. Algumas voltas depois na relargada, começou a perder posições, esparramou em uma das curvas, e quando voltou para a pista bateu no Miguel Oliveira (KTM satélite). Outra prova onde Pol não completa e não pontua, outra prova em que Miguel é tirado da prova por um piloto KTM. A fúria de Miguel chutando tudo no seu box após a queda é justificável…

Na Áustria a Ducati sempre foi favorita, mas KTM e Suzuki tiveram bom desempenho e podem incomodar

Voltando a corrida, apesar de todas as imprevisibilidades da temporada 2020 a Ducati se destacou na Áustria com seu piloto nº1. Isso mesmo, Andrea Dovizioso se segurou na liderança, viu Alex Rins (Suzuki) chegar, ultrapassar e cair sozinho, abandonando a prova. Dovi cruzou a linha de chegada em primeiro, a vitória de número 50 para a Ducati no Mundial de Motovelocidade e a número 14 dele com a Ducati. A surpresa foi que Jack Miller não conseguiu se segurar na segunda posição, sendo superado na última volta da corrida por Joan Mir (Suzuki). Esse foi o primeiro pódio da Suzuki na Áustria e o primeiro pódio de Mir na MotoGP.

Dovizioso, o estrategista da MotoGP?

Para Dovizioso, vencer na Áustria no fim de semana que disse não para a Ducati me parece algo premeditado e que pelo menos nessa corrida deu certo para seu marketing pessoal. Ele aproveitou o favoritismo que tem no Red Bull Ring para valorizar seu movimento de “pedir pra sair” da Ducati. Se tivesse oficializado que não vai renovar no fim de semana da República Tcheca com o resultado ruim que teve seria visto como em “fim de carreira”. Com a vitória sai com moral e muita repercussão positiva. Estrategista ou pura coincidência?

Vitória de número 50 da Ducati no Mundial de Motovelocidade. 14 são de Dovizioso

O destino para 2021 Dovi não fala, mas o que eu gostaria de ver? Ele assumindo uma moto na equipe Aprilia. Ele é um piloto italiano, a Aprilia é italiana assim como a Ducati. Se Dovizioso fosse para a equipe Aprilia para desenvolver a moto e vencer com ela seria épico para o seu legado como piloto. Vamos aguardar, pois as únicas coisas que Dovizioso falou é que não tem plano B e que continuar correndo. E com essa temporada maluca, sabemos que ele pode sair da Ducati como campeão após 3 temporadas consecutivas terminando como vice-campeão.

O resultado das fábricas na MotoGP

Falando sobre marcas, Ducati venceu com Dovizioso e Miller ficou no pódio em terceiro lugar. A melhor Suzuki foi a de Mir, no pódio em segundo. A KTM garantiu um quarto lugar com Brad Binder, que venceu o GP da República Tcheca. A Yamaha teve um quinto lugar com Valentino Rossi e a Honda fechou a prova com sexto lugar de Takaaki Nakagami. Seis pilotos não terminaram a prova e entre os 17 pilotos que cruzaram a linha de chegada na Áustria, 4 eram pilotos Honda. Problema geração pela dependência da Honda de apenas um piloto. Falando em Marc Márquez, seu retorno ainda com um “provável” acompanhado é para Misano, em setembro.

Dovizioso superou todos os obstáculos da prova e venceu na Áustria. Vencerá na segunda corrida nessa pista também?

Sobre o líder atual da temporada, Fabio Quartararo, vale uma explicação individual pois ele ficou a parte de toda a prova. Largou mal, em poucas voltas perdeu o freio e saiu da pista na curva 4 retornando em último, pouco antes da bandeira vermelha. Na segunda corrida, teve novamente problemas com a moto, mas terminou em oitavo, nitidamente frustrado por não ter velocidade para manter posição na frente de Danilo Petrucci (Ducati), após ultrapassagem na última curva e perdendo a posição na reta. Limitação da moto que a Yamaha precisa corrigir se quer voltar a ser campeã, já que todas as outras motos melhoraram nesse quesito.

Novamente Quartararo mais apanhou da sua moto do que qualquer coisa. Nas outras pistas precisará de bons resultados

Na temporada Fabio segue líder com 67 pontos. Dovizioso assume a vice-liderança, com 11 pontos de atraso para Fabio (56 pontos). Maverick Viñales cai para terceiro colocado, com 48 pontos, após terminar em décimo, também com problemas na moto. KTM em quarto lugar com Brad Binder com 26 pontos de atraso para Fabio (41 pontos). Na próxima corrida na Áustria é provável que Dovizioso conquiste no mínimo o pódio, com isso a chance dele assumira liderança é grande nesse momento. Mas após a rodada dupla na Áustria as próximas pistas são favoráveis para quem? Yamaha… Por isso, campeonato completamente aberto e imprevisível! Por isso está tão emocionante!

Uma coisa é fato, a MotoGP não depende de Marc Márquez para ter corridas épicas… Já a Honda não pode dizer o mesmo e precisa resolver isso. Será que Pol Espargaro é a cura desse problema? Sinceramente não sei! Próxima corrida é no próximo fim de semana na mesma pista. Vamos ver o que muda e torcer para mais nenhum susto!

Sem Marc Marquez disponível, a Honda tem como melhor piloto o Takaaki Nakagami em 6º. Muito pouco para o tamanho da Honda

O que você achou da corrida e de todos os acontecimentos dentro e fora da pista?

MARCELO BARROS

Criador de conteúdo sobre motos desde 2011, com uma abordagem didática. Compartilha aprendizados e busca sempre as respostas certas para orientar boas escolhas na compra e uso de motos, ajudando motociclistas a andar com confiança.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *