OPINIÃO

Motos chinesas, italianas, controle de qualidade e preconceito

Um problema recorrente entre os motociclistas é o preconceito. Já falei sobre isso antes em outros textos, mas dessa vez quero abordar um novo ângulo que envolve a origem das motos, o país onde foram fabricadas. O que muda entre motos chinesas, indianas ou alemãs? Quero compartilhar minha visão sobre o assunto nesse texto.

O que muda são os fornecedores de miudezas que não afetam o projeto, para atender leis de incentivo industrial local, como cabos, pneus, pastilhas, correntes de transmissão, por exemplo, entre outros itens. Existe uma cota de itens que precisa ser nacionalizado em um conjunto de regras que considero bem complexo (e nada útil) para explicar aqui. Mesmo assim, os itens escolhidos dos fabricantes locais são obviamente avaliados e homologados para serem usados naquele determinado modelo, que no seu país onde fica a matriz são outros.

Outra coisa que muda? O custo dessa mão de obra da fábrica. Na Alemanha é um custo, no Brasil é outro, no Japão é outro e nos Estados Unidos outro. Custos com mão de obra tornam mais ou menos lucrativo ter uma fábrica naquele país, sem deixar de mencionar o sistema de tributação, os impostos que a indústria precisa pagar naquele país para contratar pessoas e fabricar suas motos. Isso continua não fazendo diferença real no produto materializado, apenas no custo de fabricação e respectivo lucro.

Então o que muda para a gente acreditar que motos fabricadas no país “A” são melhores que motos fabricadas no país “B”? Se a gente está falando da mesma moto da mesma marca, eu diria que muda apenas o rigor do controle de qualidade aplicado em cada uma SE existir mesmo diferença.

Se estamos falando de motos diferentes de marcas diferentes a diferença de uma moto incrível para uma moto questionável está relacionado com a qualidade do que é utilizado e com a capacidade da engenharia daquela empresa de criar produtos realmente de qualidade, que possam ser vendidos em qualquer país do mundo sem problemas de aceitação do mercado local por ter um nível de qualidade abaixo do que aquele público-alvo local tem como aceitável, acostumado com produtos que estão naquele país e de melhor qualidade funcional.

O que muda entre uma moto fabricada na Malásia e uma moto fabricada nos Estados Unidos é o nível de qualidade desejado para o produto final. Então eu posso ter um produto muito bem produzido em um país bem pobre e posso ter um produto com o mesmo nível de qualidade saindo de uma fábrica da Europa, com todo seu status. Se o processo de fabricação está bem desenvolvido, se o maquinário é o mesmo e o controle de qualidade daquela fábrica está equivalente ao da matriz, a moto tem que ser muito parecida, salvo miudezas que citei no começo que não deveriam alterar em nada o DNA da moto se o processo de homologação de fornecedores for criterioso.

Existem associações feitas na cabeça de algumas pessoas que são no mínimo, em embasamento. Montar fábricas em países fora do eixo ‘famoso’ do mundo tem um motivo claro: aumentar o lucro com mão de obra ou impostos mais acessíveis. Se você controla a qualidade, mantém seu produto como referência sendo fabricado em qualquer lugar do mundo e ainda tem mais lucro.

Quem aí SE tivesse uma fábrica com a possibilidade de ter uma unidade em outro país para poder lucrar mais, sem comprometer sua qualidade não faria isso? Esse é um dos problemas de alguns motociclistas, baseado no puro creme do achismo…  Pensem um pouco. Existe produto bom e produto mais ou menos. E isso não tem relação com o país onde foi fabricado. Precisamos ser mais criteriosos e honestos para identificar isso de forma clara e não tão genérica como temos feito.

MARCELO BARROS

Marcelo é criador de conteúdo para motociclistas desde 2011. Compartilha seus erros e aprendizados para que mais pessoas entendam como é bom andar de moto todos os dias, usando ela da melhor forma possível, sem neurose.

2 thoughts on “Motos chinesas, italianas, controle de qualidade e preconceito

  • Acho que, especificamente, no caso das chinesas, as motos de baixíssima qualidade que vieram logo no inicio, meio que “queimou o filme” delas e acabou criando essa ideia de que tudo que vem de lá, é péssimo. Sendo que, a maioria das coisas que compramos, vem de lá…

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    • MARCELO BARROS

      Somos profissionais em ter preconceito, infelizmente Ivan. Eu gostaria de tentar mudar essa realidade de alguma forma compartilhando meu ponto de vista sobre temas, como esse aqui. Abraço

      Resposta

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