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Tour da Crosser: Moto pequena e a melhor viagem da vida! (pt.2)

Essa é a segunda parte desse texto. Viagem boa é assim mesmo, vira texto grande! Se chegou aqui sem ter lido o começo, clique aqui e vá acelerado (a) para a primeira parte!

No quarto dia, avançamos sentido o Rio Grande do Sul e as paisagens ficavam cada vez mais bonitas e acolhedoras. O ponto alto do dia foi a Serra do Corvo Branco, rodeada de natureza e subindo por um caminho onde vimos motos esportivas e motos custom passando.

serra do corvo branco tour da crosser
Com a Yamaha Crosser S visitei pela primeira vez a Serra do Corvo Branco

O trecho tem partes irregulares, então qualquer moto vai, mas prepare-se pois o pavimento não é bom. Em muitos lugares conversamos com outros motociclistas que encontramos sobre tudo e sobre nada. A moto realmente une as pessoas de forma única.

Com a equipe de gravação, nós subimos e descemos algumas vezes a Serra de ponta a ponta, o que eu gostei muito, pois como a Crosser é trail, leve e confortável, poderia fazer isso o dia todo sem cansar.

Depois do tradicional registro na pedra partida no alto do Corvo Branco, seguimos até o centro da pacata Urubici. Depois de uma parada para comer e relaxar, subimos até um ponto alto, guiados pelo Glauber Leite, guia local da cidade, e fomos presenteados com um por do sol lindo. Na cidade ficamos no hostel onde ele trabalha, afastado do centro.

Depois de explorar o Corvo Branco, fomos presentados com esse cenário lindo em Urubici!

No quinto dia, o maior desafio dessa viagem para mim. Subimos de moto o Cânion Espraiado, o caminho é desafiador, não passam carros comuns e apesar de não termos encarado mais chuva no caminho, choveu muito na região dias antes e a subida estava complicada, muito lisa, com barro e muita pedra solta.

O caminho era curto, com uns 12 quilômetros, mas a sensação era de que não acabava, tamanho o desafio. Subimos até o topo, mas foi muito cansativo para mim especialmente, que me não me preparei nada para isso. Erro meu.

“Comprei um terreno” indo para o Cânion Espraiado, em Urubici. Para os 3 pilotos foi moleza!

Como usamos a moto original, o pneu não é o adequado para tanto barro, pois isso ela escorregava bastante, mas novamente, por ser uma moto 150, e não uma 800 ou 1200, tudo foi mais fácil, muito mais fácil. Se fosse uma maxitrail eu teria desistido logo no começo. A palavra do dia foi superação.

Após descansar um pouco no topo e admirar o visual do Cânion Espraiado, era hora de descer. Esfriou muito e começou a garoar, então descemos com cautela e chegar no fim do trecho de aventura lá embaixo foi bem especial para mim. Nunca havia enfrentado algo próximo disso em nível de dificuldade e técnica. Quero voltar lá de moto, mais preparado fisicamente!

Tour da Crosser da Yamaha
No Sul do País, fomos cortando por estradas de terra. O cansaço já começava a aparecer

No sexto dia, pensei que agora tudo seria mais fácil, depois da aventura em Urubici. Inocência minha! Chegaríamos ao Rio Grande do Sul, o último Estado da viagem e novamente a organização escolheu o caminho mais desafiador, praticamente todo por terra.

Talvez o cansaço dos dias anteriores apertou, então encarei o dia que acabou em Cambará do Sul, RS, como uma prova de enduro.

Muita pedra solta na estrada por muito tempo. Achei que as motos não aguentariam tanta pancada, mas novamente as sete chegaram ao fim do dia sem apresentar defeitos.

De moto no Sul do Brasil
Como em uma expedição, fomos explorando o Sul do Brasil rodeados de natureza

As palavras do dia foram foco e resistência, pois para conseguir cumprir o cronograma era preciso andar bastante, sem parar muito. Novamente, a moto ser leve ajudou demais a cansar menos. Terminei o dia feliz por ter superado meus limites técnicos e físicos, mas exausto.

No sétimo dia, o percurso foi até Passo Fundo, RS, e foi metade offroad, metade onroad. O desafio do dia foi logo cedo, em Jaquirana, RS, que era cruzar o Rio Tainhas, no ponto chamado de Passo do S. O “S” do nome é porque existe um caminho sinalizado indicando o onde é mais raso, e esse caminho faz um S. O desafio tinha dois motivos.

motos em plantação de soja
Como não ficar encantado com as paisagens pelo nosso caminho?

O primeiro é que o rio estava mais cheio que o normal e não era fácil – pelo menos para mim – fazer uma leitura de onde ir com a moto. O segundo desafio é que a superfície por onde passamos com a moto era de pedra e muito, mas muito escorregadia.

No meio do percurso, acabei saindo do caminho fácil e precisei de ajuda para sair dali. Depois quando achei que estava tudo certo, que está sob controle, perdi a traseira e dei um rápido mergulho no rio com moto e tudo!

O saldo do meu erro foi um manete quebrado, pois como eu disse o fundo era de pedra. A equipe de apoio o trocou e a moto estava pronta para seguir. Ali haviam terminado os grandes desafios da viagem, e depois de algumas travessias por rios rasos e pontes não tão bem cuidadas, chegamos ao asfalto.

Passamos por Bento Gonçalves, RS, cidade famosa pela qualidade do seu vinho e visitamos uma vinícola, para conhecer mais sobre a cultura do vinho.  Até o fim do dia, muito asfalto para chegar até o destino, Passo Fundo.

motos no destino final
Sete motos e um destino. As ruínas de São Miguel das Missões, no Sul do Brasil

No último dia, cerca de 200 km nos separavam das Ruínas de São Miguel das Missões. O percurso final teve paisagens incríveis e asfalto com irregularidades, o que exigiu cuidado extra na moto. O motivo é o alto volume de caminhões que passam na região.

O último trecho de terra tinha cerca de 10 quilômetros e era com estrada batida e muita poeira. Logo chegamos nas Ruínas e ao fim da jornada com a Crosser. No painel da moto, quase 2.100 quilômetros percorridos desde a saída da fábrica da Yamaha.

fim da viagem de moto
Missão cumprida com o grupo nas ruínas de São Miguel das Missões

Fiquei impressionado com as belezas de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, não passei pela Serra do Rio do Rastro, então quero voltar em breve para isso.

Aprendi muitas lições sobre amizade, parceria e sobre os reais valores do motociclismo. O principal aprendizado foi que é possível viver grandes experiências com uma moto de baixa cilindrada. Exige cuidados muito pequenos em troca de grandes benefícios.

viagem de moto
No mapa o percurso dos cinco últimos dias da viagem. Quase cruzamos a fronteira.

 Fiquei impressionado com o que essa moto foi capaz de proporcionar e em como a Yamaha foi ousada em colocar os participantes em condições tão desafiadoras.

Como os deuses costumam abençoar os ousados, deu tudo muito certo e mesmo já pilotado na Espanha, no México e na Califórnia, tive a melhor viagem da minha vida no Brasil, com uma moto de baixa cilindrada.

MARCELO BARROS

Marcelo é criador de conteúdo para motociclistas desde 2011. Compartilha seus erros e aprendizados para que mais pessoas entendam como é bom andar de moto todos os dias, usando ela da melhor forma possível, sem neurose.

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