TEXTOS

MotoGP: O xeque-mate de Valentino Rossi em 2004

O circuito Phakisa Freeway, em Welkom, África do Sul, sediava a abertura da temporada 2004 do Mundial de Motovelocidade. As atenções estavam voltadas para a equipe de fábrica Yamaha na MotoGP, ou melhor, para Valentino Rossi, que fazia ali uma ousada manobra em sua carreira. O piloto italiano estreava na equipe após conquistar três títulos consecutivos com a Honda na categoria principal em quatro temporadas juntos, com feitos como conquistar o seu primeiro título na classe rainha em cima de Max Biaggi – para mim o mais agressivo rival na história de Rossi – na última volta na Austrália em 2001.

rossi na honda
Com a Honda, Rossi competiu entre 2000 e 2003 na classe principal do Mundial de Motovelocidade

A rivalidade entre Rossi e Biaggi – na época piloto Yamaha – já vinha de muito antes disso. Outro feito histórico foi na mesma Phillip Island em 2003, quando Rossi tinha uma punição de 10 segundos e conseguiu vencer a prova com… 10 segundos de vantagem! A Honda era considerada na época a melhor moto do grid.

Enquanto isso, a Yamaha vinha de 18 meses sem vencer uma etapa, teve em 2003 como melhor resultado um terceiro lugar com Alex Barros – um único pódio no ano – e fechou a classificação da temporada na sétima posição com Carlos Checa. A deficiência da Yamaha na época era clara – e o regulamento técnico passava por mudanças grandes em curtos períodos, para dificultar ainda mais o trabalho das equipes.

rossi na yamaha
Rossi (#46) na Yamaha e Biaggi (#3) na Honda em 2004. Rivalidade histórica na motovelocidade

Alguns problemas internos na Honda também deram um empurrão nisso: algo como se Rossi “só era campeão porque a moto era boa”, que ele dependia da moto. Pronto, já temos um bom enredo aqui, digno de filme – já assistiu “Ford vs Ferrari”? Rossi fechou contrato por duas temporadas com a Yamaha, terminou 2003 com vitória e título pela Honda, fabricante que o impediu de participar dos testes oficiais em Valência.

Rossi só subiu na Yamaha pela primeira vez em 2004. Junto com Rossi, quase toda sua equipe na Honda foi para a Yamaha, incluindo Jeremy Burgess, o chefe de equipe. Na época as regras de testes eram mais brandas que agora, dava para testar mais, e a Yamaha trabalhou muito com Rossi e Burgess na pré-temporada para acertar a M1 para 2004. Muitos questionavam a decisão de Rossi de ser um erro, tanto para ele, quanto para a Yamaha, pois o contrato era muito alto para a época e poderia não dar certo.

Voltando ao GP da África, Rossi, com 25 anos de idade, foi o mais rápido em todos os treinos e largou na pole position, na frente de Sete Gibernau e Max Biaggi, respectivamente, primeiro, segundo e terceiro colocados na temporada anterior, com a diferença de que Rossi agora era o único dos três que não era mais piloto Honda. Pista seca, dia de sol, largada! Rossi mantém a liderança, Biaggi passa Gibernau e logo a disputa fica entre os rivais Biaggi e Rossi, ambos italianos, isolados na ponta. Biaggi passou duas vezes Rossi na prova, mas a história estava sendo feita ali.

vitória de rossi com a yamaha
Momento da primeira vitória de Rossi com a Yamaha em 2004. Vitória sobre Biaggi de Honda validou ainda mais!

Rossi marcou seu nome na história como o primeiro piloto a vencer duas corridas consecutivas – a última de 2003 e a primeira de 2004 – em motos de fábricas diferentes, algo inédito no Mundial de Motovelocidade. Depois dessa prova, Valentino venceu a temporada 2004 – conseguindo ganhar dois anos seguidos em marcas diferentes. Deu para a Yamaha o título mundial, que também ganhou o título de equipes. Em 2005, Rossi conseguiu com a Yamaha a chamada Tríplice Coroa – título de piloto, equipe e construtores na mesma temporada, perdeu por 5 pontos o título em 2006 para Nicky Hayden, piloto Honda, e voltou a vencer com a Yamaha em 2008 (Tríplice Coroa) e 2009, seu último título na MotoGP.

Para mim, foi nesse 18 de abril que Rossi mostrou ao mundo que estava acima da média. Uma decisão ousada onde provou que seu talento é o responsável pelos resultados. 

Rossi no GP da Holanda 2017
Rossi comemorando sua última vitória na MotoGP. Foi em 2017, no GP da Holanda

Temos que respeitar o legado do Valentino, que encerrou no fim de 2021 a carreira como piloto de motovelocidade, um ano após a sua saída da equipe de fábrica da Yamaha no fim de 2020, quando o piloto Fabio Quartararo, subindo da Yamaha satélite, começou no time principal – e terminou a temporada 2021 como campeão. 

MARCELO BARROS

Marcelo é criador de conteúdo para motociclistas desde 2011. Compartilha seus erros e aprendizados para que mais pessoas entendam como é bom andar de moto todos os dias, usando ela da melhor forma possível, sem neurose.

One thought on “MotoGP: O xeque-mate de Valentino Rossi em 2004

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *